CoVID19 – Utilização de máscaras pelas crianças (informação aos cuidadores)

Com o levantamento do estado de emergência, urge pensar como vamos regressar lentamente às nossas vidas normais em segurança.

Precisamos regressar ao trabalho, as crianças precisam voltar a brincar na rua, mas a que custo?

Sabe-se hoje que um indivíduo infetado é transmissor do vírus desde 2 dias antes do início de sintomas, sendo a carga viral elevada na fase precoce da doença, e diferentes estudos indicam também que indivíduos assintomáticos podem transmitir a infeção. Assim, desde dia 14 de abril que a Direção Geral de Saúde aconselha o uso de máscaras por todas as pessoas que permaneçam em espaços interiores fechados com um elevado número de pessoas, como sejam supermercados, farmácias, lojas, transportes públicos, entre outros, como medida adicional ao distanciamento social, à higienização das mãos e à etiqueta respiratória (o vulgo espirrar ou tossir para a face interna do cotovelo). Contudo não é muito explicita quanto ao uso das máscaras “comunitárias” pelas crianças.

De acordo com as informações que têm sido transmitidas pela DGS, as crianças, por norma, quando infetadas pelo Coronavírus, muitas vezes ficam assintomáticas ou com sintomas ligeiros, sem nunca chegarem a ser testadas para o COVID19. Esta realidade pode ser preocupante ao nível da saúde pública, pois desta forma tornam-se num dos principais veículos de transmissão, colocando em risco outros grupos populacionais, como por exemplo os avós. Mas calma, não vamos agora manter as nossas crianças fechadas em casa por causa disto, mas é importante conhecermos os riscos para sermos cautelosos. As máscaras comunitárias, mesmo as certificadas, não têm a mesma eficácia que as cirúrgicas, mas estas devem ser usadas preferencialmente por quem está em contacto direto com outras pessoas como profissionais de saúde, autoridades de segurança, operadores de supermercado, farmacêuticos, entre outros. Para a população comum, uma máscara de tecido de 100% algodão e, eventualmente um filtro de TNT (tecido-não-tecido) ou outro, tornase bastante eficaz se todas as pessoas usarem e como medida adicional às restantes medidas de prevenção de propagação do vírus já conhecidas.

Portanto, e tendo em conta o referido anteriormente, a fundamentação das autoridades de saúde para o uso de máscaras por parte das crianças prende-se essencialmente com a prevenção do contágio, já que estas podem estar infetadas sem o sabermos.

Mas então TODAS as crianças devem usar máscaras? A resposta é clara: NÃO!

Especialistas em Saúde da Criança como os Centros de Controlo e prevenção de Doenças dos EUA ou o Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos, alertam para o facto da criança pequena, até aos dois anos, ter as vias aéreas mais pequenas, pelo que o uso de máscaras poderá contribuir para uma maior dificuldade respiratória. Estamos a falar de uma idade em que a criança não consegue dizer aos pais que está com falta de ar e, ao taparmos-lhe parte da cara, não conseguimos ver a cor dos lábios ou as abas do nariz para descodificar rapidamente sinais de dificuldade respiratória.

Por outro lado, quem tem crianças também sabe que é raro o bebé ou criança, mesmo com 3 anos, que aceita o uso de fitas, chapéus ou outros apetrechos na cabeça ou face, sem que esteja constantemente a tentar retirá-los ou a mexer neles. Ora, sabendo que a utilização de uma máscara, para que seja eficaz e não mais um foco de contágio, implica o cumprimento de determinadas regras como não tocar na máscara, não tirar, não esfregar os olhos, como podemos esperar que as crianças, eventualmente até aos 4 anos, inclusive, consigam cumpri-las? Desta forma, parece-me que em alguns casos será mais arriscado usar máscara do que não usar. Assim sendo, o que é importante os cuidadores reterem é o seguinte:

  • A máscara só deve ser usada se realmente necessário e se isso for mais benéfico do que prejudicial para a criança.
  • Bebés até aos 2 anos não devem usar máscara pelo risco de sufocarem. Em alternativa, caso precisem de sair de casa para espaços fechados com muitas pessoas, devem estar protegidos com uma fralda de pano, se forem no ovo ou carrinho e manter sempre a distância de segurança das outras pessoas. Não permitir beijos, toques nas mãos ou na cara de outras pessoas e os cuidadores devem ter atenção redobrada no que respeita à lavagem e desinfeção das mãos SEMPRE antes de tocarem no bebé.
  • Crianças a partir dos 3 anos podem usar máscara, desde que os cuidadores consigam assegurar o seu uso correto. Ainda assim estas crianças, se saudáveis e sem qualquer outra patologia associada que deprima o seu sistema imunitário, não precisam de usar máscaras em espaços abertos, como andar na rua ou ir ao jardim. Todos os outros locais os pais devem ponderar se é mesmo necessário a criança ir e permanecer com eles. Em casa, mesmo que estejam doentes ou alguém do núcleo familiar esteja, a criança não deve usar máscara, mas sim deve ser cumprido o isolamento numa das divisórias da casa. No que diz respeito às Creches, Pré-escolar e ATL’s também foi dada indicação no novo plano de confinamento anunciado pelo Governo a 30 de abril, de que as crianças não devem usar máscara durante o período em que frequentam as mesmas.
  • Mais importante que o uso de máscara é manter as medidas de higiene bem presentes na vida das crianças, tais como a correta lavagem das mãos antes e depois de tocar em objetos comuns, antes das refeições e manter o distanciamento social. E isto para qualquer idade, desde o recém-nascido.

Vivemos em tempos mais difíceis, é certo, mas continuamos a viver. Certamente que faremos os possíveis para que as nossas crianças não deixem de ser crianças e que por isso possam brincar e conviver sem receios, ainda que com alguns cuidados e limitações adicionais.

Algumas dicas de como ajudar a criança a usar uma máscara caso precise mesmo dela:

  • Coloquem ambos a máscara, vejam-se ao espelho, e brinquem fazendo algumas caretas;
  • Coloquem máscaras nos brinquedos favoritos dos vossos filhos;
  • Deixe a criança escolher o tecido da máscara, ou opte por um que tenha imagens coloridas ou com o desenho dos seus heróis/princesas preferidos;
  • Expliquem o porquê do uso da máscara, sem alarmar, fazendo apenas referência à existência de micróbios dos quais temos que nos proteger para não ficarmos doentes.
  • Explique à criança como deve colocar, usar e retirar a máscara e treine em casa.

Enfª Carolina Ricardo
Especialista e Mestre em Saúde da Criança e do Jovem
Sócia-Gerente do Centro Materno-Infantil Árvore dos Bebés