Respiração na Gravidez e Parto – Parte 1

Respirar é estar presente

A respiração é tão característica da vida que é um dos primeiros sinais que procuramos para perceber como está uma pessoa, se ela está bem. A respiração é o primeiro ato (in)consciente que fazemos ao nascer e, a partir desse momento só paramos de respirar se morrermos ou se nos tornarmos conscientes do processo e decidirmos fazê-lo intencionalmente. De outra forma, desde que nascemos que a respiração, no que diz respeito à frequência e amplitude, estão interligadas com as nossas atividades de vida como dormir, falar, comer, andar, fazer desporto, amar. Quando tomamos consciência do processo da respiração, tornamo-nos mais presentes no instante, naquele instante.

Estudos na área da neurofisiologia têm demonstrado que a forma como respiramos está intrinsecamente ligada ao nosso corpo como um todo, enviando mensagens que afetam o nosso humor, níveis de stress e até mesmo o sistema imunitário.

 

O nosso aparelho respiratório

A respiração constitui um dos processos fundamentais à manutenção da vida já que é através dela que o ser vivo adquire o oxigénio essencial ao funcionamento de todas as células do corpo e expele o dióxido de carbono produzido pelo nosso organismo, mantendo-o saudável e com órgãos fundamentais em pleno funcionamento como o coração e o cérebro.

Além da função fundamental de trocas gasosas, o aparelho respiratório tem ainda a função de controlo do PH do sangue, fonação, olfato e proteção. É constituído pelas vias aéreas superiores (pirâmide nasal, fossas nasais, faringe e estruturas associadas) e pelas vias aéreas inferiores (laringe, traqueia, brônquios e pulmões). A boca não está associada ao aparelho respiratório, mas sim ao digestivo, pelo que no Yoga a respiração natural é sempre referida como nasal. Desta forma acontece uma humidificação e aquecimento natural do ar inspirado, bem como uma limpeza inicial de vários microrganismos que acabam por não penetrar no nosso corpo.

Os movimentos respiratórios são realizados pelo diafragma, pelos músculos da parede torácica e pelos músculos da parede abdominal, sendo os pulmões os principais órgãos associados à respiração, por neles se encontrarem uma vasta rede de alvéolos irrigados de sangue onde se efetuam as trocas gasosas.

Numa respiração em esforço “todos os músculos inspiratórios intervêm e a contração é mais forte (…) o que gera uma maior e mais rápida diminuição do volume torácico”, pelo que no Yoga se preconiza que a respiração seja PROFUNDA (ou ampla), COMPLETA (abdominal, intercostal e clavicular), CONSCIENTE, RITMADA, CONTROLADA, UNIFORME, LENTA, SILENCIOSA, NASAL e com a MÍNIMA PROJEÇÃO DE AR. Desta forma conseguimos aquietar as ondas cerebrais, o ritmo cardíaco, favorecendo o relaxamento e as trocas sanguíneas.

 

Alterações da respiração durante a gravidez

Durante a gravidez, a mulher vai sofrendo várias alterações estruturais e fisiológicas no seu corpo, resultantes essencialmente do crescimento do bebé e, consequentemente, do aumento do tamanho do útero. Este aumento conduz inevitavelmente ao aumento da pressão sobre o diafragma, o que significa uma menor capacidade funcional, afetando assim a respiração da mulher numa fase em que ela precisa de respirar para dois. Em compensação, a mulher tem tendência a aumentar a frequência respiratória para, assim, conseguir obter mais oxigénio para suprir as suas necessidades.

 

Respiração Consciente na Gravidez

“Respirar é estabelecer a ponte entre a sua (da mãe) mente, o corpo e o bebé”

Através dos exercícios respiratórios a mulher reaprende a respirar. O Oxigénio torna-se a principal fonte de alimento e energia para o bebé e para a sua mãe. A respiração profunda, consciente e controlada mantém a mulher sintonizada com o seu processo de gravidez, com o seu bebé. Há todo um trabalho emocional que se consegue através desta consciência respiratória, para além do ganho de energia, do aumento da capacidade respiratória, do controlo expiratório e da tonificação muscular do pavimento pélvico associado a todo o processo.

Num estudo realizado por Jiang et al (2015), os autores consideraram que a respiração controlada e consciente (pránáyáma), especialmente na gravidez, juntamente com outras práticas de Yoga, pode melhorar estados depressivos, reduzir a tensão arterial, diminuir a probabilidade de diabetes gestacional, diminuir a dor durante o trabalho de parto, melhorar a saúde mental, reduzir o tempo no trabalho de parto e diminuir os episódios de insónia. Também num estudo preliminar, apresentado em maio de 2016 no Congresso Internacional sobre Medicina Integrativa e Saúde, em Las Vegas, investigadores chegaram à conclusão de que 12 semanas de Yoga diário e respiração controlada, melhoraram os sintomas de depressão semelhante ao que acontece quando são usados antidepressivos.

Podemos então considerar que o condicionamento respiratório promovido desde o primeiro trimestre de gravidez, contribui para que a mulher se sinta mais descontraída em situações que lhe causam maior preocupação, uma vez que ajuda na produção da hormona oxitocina (hormona responsável pelo trabalho de parto, produção de bem-estar e também de leite materno), em detrimento da hormona adrenalina (produzida em situações de medo, stress ou ansiedade).

A respiração controlada e consciente é, por isso, uma excelente ferramenta para a mulher grávida pois permite-lhe desencadear uma resposta de relaxamento, quando todo o sistema nervoso simpático se ativa no momento em que iniciam as primeiras contrações dolorosas. Embora o momento do parto e do trabalho de parto possam diferir de mulher para mulher, e não querendo impor nenhuma forma de respiração à mulher neste seu processo, a realidade é que ao incorporar nas aulas técnicas de respiração controlada durante a gravidez, estamos a trabalhar uma memória metabólica e celular de mais fácil e rápida resposta a fatores de stress.

 

Por Carolina Ricardo, EESIP e Instrutora de Yoga
Abril 2021

 

REFERÊNCIAS

  • Chopra Deepak, Simon David e Abrams Vicki (2006), Corpo Mente e Espírito na gravidez e no parto, Editorial Presença.
  • Seeley (2008), Anatomia e Fisiologia, Lusociência.
  • Kupfer, Pedro, yoga.pro.br
  • Mercola (2016), Breathe, Exhale and Repeat: What Are the Benefits of Controlled Breathing?, wwww.mercola.com.
  • Yuksel, et al (2017), Effectiveness of breathing exercises during rhe second stage of labor on labor pain and duration: a randomized controlled trial, Journal of Integrative Medicine.
  • Iyengar, et al (2010), Iyengar Yoga for Motherhood, Sterling New York.
  • Jiang, et al (2014), Effects of Yoga Intervention During Pregnancy: A review for Current Status, Am J. Perinatal; 32: 503-514.
  • Manual Curso de formação Yoga na Gravidez – Marco Peralta e Eugénia Palma.